Por diversas vezes durante essa fase nova da minha vida, ou melhor da
minha nova vida, tenho pensado em escrever um livro. Acho que esse ano
foi o ano que eu mais aprendi em todos os sentidos, será que da pra
esquecer? não da, eu acho que deve aliviar um pouco com passar dos anos.
Essa frustração e esse nó na garganta toda vez que eu lembro de tudo
que aconteceu. Nunca fui de acreditar em Deus, e sempre tive certeza de
que a minha vida estava nas minhas mãos, que eu conseguiria mudar
qualquer futuro meu. Mas um dia eu acho que algo estava tentando me
avisar que meu filhinho tão esperado iria ser especial, é dificil
assumir isso mas, sim o ryan é especial. Eu estava gravida e fui levar
minha cunhada em um lugar de esportes que ela dava aula e quando
esperava ela vi 4 pessas, duas mulheres, uma criança que corria e
brincava e outro na cadeira de rodas com a cabecinha caida a outra
criança corria e beijava o garoto da cadeira de rodas havia muito
carinho naquele momento, ele vestia o uniforme da APAE e juro sempre
tive panico de la, nem pensei que meu bebê pudesse ter algo, mas aquela
imagem ficou gravada na minha cabeça. Nao sei como vai ser, se ele vai
andr, se ele vai sentar, se vai falar... enfim vou tentando enfiar, é
literalmente enfiar na minha cabeça que eu tenho que viver um dia de
cada vez. Como é dificil amar tanto uma pessoa que vai ser pra sempre
sua. Hoje eu sei... não tenho controle de nada, tudo em segundos pode
mudar. Acredito que eu nao sou uma versao melhorada da jéssica, mas sim
uma nova jéssica... melhor? sinceramente eu acho que não...agora com
muita dor, medo, com olheiras...sem paciencia com as pessoas, as pessoas
não sabem o que é ter uma criança especial, ouvi de uma senhora mãe de
cinco filhos saudaveis que mãe de crianças especiais devem vestir a
camisa... juro que na hora guardei minha raiva e tentei entender,
continuo com a minha raiva contida, a minha vontade é falar a senhora ja
imaginou esse dois filhos da senhora que estao correndo, pararem de
andar, é!!! do nada!! simplismente por qualquer motivo eles parem de
andar, falar, sentar, olhar...é!!! porque para todos os efeitos o meu
filho ia ser normal e do nada, é do nada...quando eu volto depois do
almoço a merda toda ja tinha acontecido, ja imaginou a senhora sair para
almoçar e quando voltar seus filhos não andam mais, não falam mais e
dai por diante...eu não falo amargamente, eu amo meu príncipe guerreiro
mais que tudo e jamais trocaria ele por qualquer criança saudável, eu
gosto de ser vencedora e vou ganhar, o Ryan vai ser feliz... vai ser
feliz. A verdade é que tudo que eu planejei deu errado, tudo que eu
falei que ia fazer não deu certo, será que foi Deus me castigando pela
minha incredulidade?
"Eu
segurei muitas coisas em minhas mãos e eu as perdi; mas tudo que eu coloquei nas mãos de Deus eu ainda possuo."
(Martin Luther King)